No dia 30 de novembro de 2020, o cenário do fotojornalismo brasileiro perdeu uma de suas figuras mais icônicas, com o falecimento de Sérgio Vital Tafner Jorge aos 83 anos, vítima da covid-19.
Reconhecido como o vencedor inaugural do Prêmio Esso de Fotografia em 1960, sua obra de mais de 60 mil imagens capturou alguns dos momentos mais cruciais do Brasil na segunda metade do século passado. A busca incansável por aprimoramento e a exploração constante de novas abordagens fotográficas fizeram de Sérgio Jorge uma inspiração para seus colegas.
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A origem de Sérgio
Nascido em Amparo, São Paulo, em 7 de abril de 1937, Sérgio começou a sua jornada fotográfica aos 15 anos na cidade natal, participando ativamente do Cine Foto Clube de Amparo. Em 1955, mudou-se para São Paulo, onde deu início à sua carreira como repórter fotográfico no jornal “O Dia”. Em menos de um ano, foi contratado pela Fundação Casper Líbero, editora dos jornais “A Gazeta” e “A Gazeta Esportiva”, e aí seu trabalho começou a se destacar.
Em 1959, colaborou como freelancer para a revista “Manchete”. Durante uma reunião de pauta, sugeriu uma reportagem sobre a vacinação de cachorros, mas inovou ao propor a cobertura do trabalho da carrocinha, veículo que recolhia animais de rua para serem sacrificados pela Prefeitura.
A proposta foi aceita e durante três dias, Sérgio acompanhou os agentes municipais enquanto eles laçavam cachorros, registrando reações diversas, desde adultos irritados até crianças lançando pedras, inconformadas com a situação. Um momento de destaque foi capturado na Freguesia do Ó, onde um menino chorando se agarrou à corda, lutando para impedir que seu cachorro fosse levado. A sequência de fotos marcantes, intitulada “Não Matem Meu Cachorro”, ocupou quatro páginas da “Manchete” e gerou grande repercussão, sendo publicada em pelo menos 36 veículos ao redor do mundo.
Essas imagens notáveis renderam a Sérgio Jorge o primeiro Prêmio Esso de Fotografia em 1960, e com isso ele fez a transição para a equipe da revista “Manchete”, contratado pela editora Bloch, com um salário dobrado. Sua passagem pela revista durou até 1970.
Carreira
Ao longo de sua carreira, Sérgio acompanhou as mudanças da profissão, incluindo a introdução das fotografias coloridas em publicações, a redução do tamanho e peso dos equipamentos e as inovações nas lentes. Ele enfatizava a importância de estudar e debater com colegas para alcançar os melhores resultados fotográficos.
Pelé, o pugilista Éder Jofre e os estilistas Dener e Clodovil foram alguns dos muitos personagens cujas trajetórias foram capturadas pelas lentes de Sérgio Jorge. Ele testemunhou a construção e inauguração de Brasília em 1960, além de se tornar o primeiro fotógrafo brasileiro a documentar a Antártica em 1969.
Em 1970, a convite de Chico Albuquerque, ele se juntou à equipe do Estúdio Abril, onde permaneceu por quatro anos, contribuindo para o treinamento de jovens fotojornalistas promissores. Durante esse período, ele também se aventurou na fotografia publicitária, continuando a colaborar com matérias jornalísticas, incluindo a cobertura do incêndio no Edifício Joelma, em 1974.
Além de sua atuação profissional, Sérgio Jorge foi um membro ativo da Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos (Ajovesp) e integrou a Comissão de Ética da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos no Estado de São Paulo (Arfoc-SP). Ao retornar a Amparo, sua cidade natal, ocupou a posição de presidente no Cine Foto Clube de Amparo, a mesma instituição onde deu os primeiros passos em sua carreira fotográfica.
Sérgio Jorge, com sua dedicação incansável à arte da fotografia, deixou um legado imensurável no campo do fotojornalismo brasileiro. Sua habilidade em capturar momentos autênticos e seu comprometimento com a narrativa visual continuam a inspirar as gerações presentes e futuras de fotógrafos e amantes da imagem.
Jornalista desde 2018 e Pós-Graduada em Cinema e Audiovisual desde 2019. Natália escreve sobre diversos conteúdos relacionados ao mundo da fotografia, cinema e audiovisual.